A imunidade após a COVID 19, com respeito às pessoas que já tiveram a doença, ou que já tiveram um exame positivo, é objeto de especulação e causa de insegurança. Talvez a primeira ideia a ser absorvida é que existem falsos exames positivos e falsos negativos. O mais importante é o quadro clínico. Se você tem dúvida, ou teve só o exame positivo sem ter tido um quadro clínico compatível, você deve consultar seu médico de confiança e talvez ele lhe peça o exame mais apropriado para sua situação. Você só pode pensar que talvez tenha imunidade se realmente teve a doença e exames positivos que evoluíram conforme o esperado.
O conceito simples é que quase 90% das pessoas que tem uma doença clínica entre leve e moderada desenvolvem imunidade após COVID 19 que dura muitos meses. Pelo menos 5 meses conforme pesquisadores como Florian Krammer, Ph.D., Professora de Vacinologia na Icahn School of Medicine no Mount Sinai Hospital, New York, autora sênior do artigo publicado na revista Science. Existe uma relação entre o anticorpo no sangue e a habilidade daquela pessoa de neutralizar o vírus. A robustez desta resposta, incluindo a longevidade do efeito neutralizador, é essencial para monitorizar a resposta em comunidades e desenvolver vacinas eficientes.
Este estudo avaliou 30 mil pessoas no Mount Sinai Health System em New York entre março e outubro de 2020. Eles utilizaram o teste ELISA da proteína spike, que fica na capa do coronavírus e permite que o vírus entre nas células. O teste de anticorpos do Mount Sinai avalia a quantidade de anticorpos, tem alta sensibilidade e especificidade, razões pelas quais foi um dos primeiros autorizados no estado de New York e pelo FDA. No fim de março o hospital começou a testar pessoas para recrutar voluntários para seu tratamento de plasma convalescente. Usaram testes com títulos de 1:80, 1:160, 1:320, 1:960 ou ≥ 1:2880. Nesta escala, quanto maior o número maior a quantidade de anticorpos no sangue da pessoa testada. Em outubro eles haviam testado 72 mil pessoas e 30 mil foram positivas, tiveram um título 1:80 ou maior. Dos 30 mil positivos a maioria absoluta teve resultados moderados ou altos, maiores que 1:320.
O mais importante desta pesquisa foi determinar o efeito neutralizante de SARS-CoV-2, que é crítico para determinar a capacidade de proteção da resposta imune de cada pessoa. É a única maneira real de verificar imunidade após COVID 19. Eles utilizaram um teste quantitativo de microneutralização baseado em 120 amostras autênticas de SARS-CoV-2, variando entre “negativo” e 1:2880. Os pesquisadores observaram que 50% dos plasmas entre títulos de 1:80-1:160 eram neutralizadores; 90 % na faixa de 1:320; e 100% acima de 1:960.
Outra questão na consideração da imunidade após COVID 19 é a longevidade da resposta imune à proteína spike. Os pesquisadores acharam que a média geométrica de neutralização foi de 690 para 704 e para 404 com 1, 3 e 5 meses após o início da doença clínica. O resultado está de acordo com a noção de que o corpo demora um pouco para montar uma resposta imune mais robusta. A interpretação é que os plasmablastos são células que primeiro respondem ao vírus invasor, e sua resposta desaparece logo. A resposta mais sustentada vem de células plasmáticas da medula óssea, que tem maior longevidade. O grupo de pesquisadores pretende continuar a testar estas pessoas e publicar seus resultados.
Dr Paulo Bittencourt