Tenho um problema de dor no ombro, como muitos nadadores, E, como todos que são destros, é do lado direito. Na verdade, explodiu pela primeira vez já há 20 anos, em uma época em que eu havia voltado a nadar após 10 anos fazendo outras coisas. Em torno dos 45 anos de idade, eu ia participar de competições pela primeira vez desde a adolescência e juventude. As viradas do nado de costas haviam mudado. A antiga cambalhota para cima usava o braço para fazer uma alavanca e forçava o ombro, exatamente o direito.
Na mesma época eu havia começado a dar laudos de polissonografia, o que significava algumas centenas de batidas no mouse para cada exame, talvez mais de mil toques em um dia. Tudo com o braço direito. A dor no ombro era incapacitante.
Com a ajuda do meu então ortopedista e da fisioterapeuta da Dimpna, tive um período de recuperação de quase um ano, com mudanças de uso para o lado esquerdo de tudo que pude, auxiliado pela idade dos meus filhos. Para ensiná-los a jogar tênis de mesa e bilhar, passei a jogar com o braço esquerdo.
Consegui me recuperar 100%, e adquirimos na clínica um know-how de dor no ombro que utilizamos em vários pacientes. Sempre evitando cirurgias e procedimentos invasivos. Desde então tive outras duas crises, uma resolvida em muitas semanas, ao invés de muitos meses, como a primeira. A segunda melhorou com uma mudança de postura no sono.
Porém, nestes 20 anos, ortopedistas do mundo todo passaram a fazer muitos exames de ressonância magnética de dor no ombro, e a operar uma grande quantidade de pessoas com dor no ombro. Até que os sistemas de saúde pública britânico, neo-zelandês e australiano acabaram com a festa.
http://www.dimpna.com/2018/06/30/ineffective-treatments-withdrawn/
Em conjunto com cirurgia de ronco, curetagem de sangramento menstrual excessivo, artroscopias de joelho para artrose, injeções na coluna para dor lombar, amigdalectomia, hemorroidectomia, contratura de Dupuytren, retirar bolinhas na mão ou pulso, e varizes, as artroscopias para dor subacromial foram retiradas da lista de procedimentos pagos automaticamente pelos sistemas públicos de saúde destes países. De agora em diante, autorizações especiais são necessárias, pois estes procedimentos não diminuem o custo/benefício para o sistema ou para os pacientes. Ou seja, independente dos procedimentos, os pacientes ainda precisam fazer todo o resto do tratamento, inclusive fisioterapia, reabilitação e mudança de hábitos. Ou seja, estas cirurgias podem ser inúteis, embora dolorosas, traumáticas e mutiladoras, pois criam cicatrizes nas articulações, no caso de ombros e joelhos.
Dr Paulo Bittencourt